quarta-feira, 14 de abril de 2010





Ai, ai. Mexer no armário realmete é muito mais do que mexer no armário.É revirar muitas vezes o passado, é se reconhecer no presente,perceber-se nas suas mais diversas facetas e se jogar-ou não- no futuro.
Parece maluquice, totoquice mesmo, mas um armário diz muita coisa sobre a gente: desde o jeito que a gente dispõe a calcinha até o jeito de guardar um sapato ou organizar uma roupa qualquer.
Quase sempre colocar o armário a baixo significa que as mudanças gritam dentro da gente.Quanto mais você joga no chão do quarto e quanto mais furioso é esse arremesso... Uau! Pode significar que desejamos aquele boom desmedido,aquela repaginada total.
Um armário de verdade guarda muito mais que roupas: guarda fotos, bilhetes, cartões, cartinhas de familiares, de antigos amores,amores atuais, de admiradores... Quem não tem ou já teve aquela caixinha guardada no fundo ou no alto do armário? Aquela caixinha da qual você não se lembra que existe devido à correria diária, mas que quando se depara com ela, senta, coloca-a no colo e acha ali representado um alguém que muitas vezes fica por anos invisível, mas que também é você.
Ai, que amigo pode ser um armário...
E se tiver um espelho, é melhor ainda...
Um armário pode ser cruel ou doce, assim como o espelho pode ser.
Armários geralmente têm gavetas. Minha bisavó dizia que nossa mente é cheia de gavetas. Que tudo de nossas vidas está ali organizado -ou desorganizado- em gavetas. Não ouvi isso da minha bisavó, mas da minha avó que hoje também não está mais aqui.Mas resgatei sua imagem assim como a imagem de tantas pessoas que passaram pela minha vida nos álbuns que encontrei no armário.
Deparei-me, ali, com alguém que não via há algum tempo. Alguém que, em algum momento da história, coubera num colo, num carrossel, num velocípede e nas fantasias feitas por minha querida avó. Alguém que pensava que cantava em inglês no quintal da casa do seu avô, e sentia-se feliz com isso, enquanto assistia às peças de gesso tomarem forma, ganharem cores e, enfileiradas, ganharem algumas lojas e lares do Rio de Janeiro.
Armário é literário.

(Escrito para www.twitter.com/crisrosito em 14/04/2010)