sábado, 6 de novembro de 2021

O QUE NÃO ENTENDEMOS

     

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     Aquilo que não entendemos dói mais em nós. Quantos de nós não sentimos angústia por um acontecimento não entendido, por uma palavra não compreendida, por um gesto não interpretado? A dúvida trazida por aquilo que não compreendemos ou por aquilo que nos negamos a compreender, torna-se uma tortura em nossa rotina, desviando-nos do foco anterior de nossas vidas e desequilibrando nossas células. 

     A morte repentina de uma pessoa tão jovem e cheia de vida como a cantora Marília Mendonça choca-nos ainda a todos e, provavelmente, afetar-nos-à até em nossos pequenos momentos. Tal acontecimento faz-nos buscar respostas e, independentemente das nossas crenças, traz-nos reflexões semelhantes acerca da fugacidade da vida . Afinal, já dizia Lulu Santos em sua canção "Como uma onda ", de 1983: "tudo muda o tempo todo no mundo".

     Nós, seres humanos, não aprendemos a perder. Perder na nossa sociedade é sinônimo de fracasso. Além disso, perder o controle das situações é uma tortura, pois temos dentro de nós uma falsa crença de que somos donos de todos os nossos passos. Muitas vezes acreditamos também termos o controle dos passos dos outros e geramos falsas e temerárias expectativas que levam desde a superficiais até profundas frustrações capazes de mudar nosso comportamento social.

     A verdade é que não sabemos nada sobre o nosso futuro. Como digo no poema  "Caminhada" que pertence ao meu primeiro livro publicado em 2008 intitulado "Dimensões": "Tudo nessa vida é transitório/ Não há como nos prendermos à margem do rio". O que posso dizer é que precisamos aprender com a vida; aprender não só com a nossa vida, mas com o rumo que toma a vida de outras pessoas. 

     Pergunte-se:O que eu, verdadeiramente, quero para mim?  O que é possível realizar?

    Precisamos  compreender  que cada um possui a sua história  e que todos os acontecimentos são lições, basta que observemos mais e não nos deixemos "tomar caixote" à beira do mar de nossas vidas. Ma, caso uma onda mais forte dê-nos uma rasteira, que aprendamos a levantar, sacudindo a areia que, geralmente, preenche as roupas de banho. Isso é viver.

     Marília Mendonça, uma das representantes do  fenômeno"feminejo" tão estudado para a composição da  dissertação do meu mestrado em  Letras Vernáculas cujo título é  "As formações X-nejo no português do Brasil: uma análise construcional", de 2017, trouxe, em suas músicas, letras que empoderam as mulheres Assim, "Ir a motel", "chorar em bar' ou "dar o troco" que, anteriormente, apareciam em canções interpretadas só por homens durante a ascensão do Sertanejo Universitário, tornam-se presentes na fala feminina. 

É uma pena  que uma das " patroas" tenha  nos deixado tão cedo,entretanto,  a história que ela construiu ao longo da sua breve vida aqui na Terra através de suas canções de "sofrência empoderada" continuarão a influenciar a música brasileira e permanecerão influenciando seus fãs e a continuidade do trabalho realizado por cantoras como Maiara e Maraisa e por futuras gerações.

     Assim, que possamos aprender com esse acontecimento, dando a devida importância ao momento presente. Que nossa angústia transforme-se  em vontade de realização de nossos projetos mais queridos. Não deixemos nossa felicidade para amanhã. Não deixemos aquela visita para amanhã. Percebamos o outro que há em nós.Reconciliemo-nos com o outro, com nós mesmos e com a vida.Afinal, "Tudo passa, tudo sempre passará", mas o que fazemos agora é que construirá o nosso porvir, tornando-nos seres melhores ou não. 

Um forte abraço a todos com o desejo de dias mais leves e de momentos mais amenos, afinal, esses últimos anos têm sido bastante desafiadores. 

Ana Cristina Rosito