Havia mais de trinta anos que não visitava aquele lugar tão aconchegante e posso afirmar que foi uma experiência muito especial que levarei para toda a minha vida. Ir a São Lourenço em novembro deste ano forneceu-me a possibilidade de não só viajar novamente para uma cidade iluminada como também de explorar o canto mais remoto das minhas memórias.

A última vez que fui a São Lourenço, possuía cerca de três anos e estava acompanhada pelos meus pais, minhas duas tias, minha avó D. Ladymar, minhas primas e um primo que não vejo há muitos anos. Desses primeiros que mencionei, só minha mãe e minhas primas seguem comigo, os demais já não mais habitam este mundo e, por isso mesmo, essa viagem acabou se tornando um passeio dentro de mim mesma, pois deparei-me com um pedaço meu que estava tão distante, mas ao mesmo tempo ainda estava lá. Por cada canto que eu passava, parte do meu passado ia surgindo, por vezes de forma delicada, por outras, colocando-me frente a frente com os meus fantasmas adormecidos.

Viajei de ônibus por cerca de seis horas na companhia da minha amiga Cris, de sua mãe e de sua sobrinha em uma caravana promovida pelo Geffa que levou brinquedos, mantimentos, remédio e acalento a algumas creches e asilos do local. Nunca havia participado de um evento desses no qual o motorista do caminhão, os motoristas dos três ônibus e os caravaneiros estavam envolvidos num bem comum. O impressionante é que as pessoas das casas assistenciais esperavam por nós: as crianças com suas apresentações e mesa com deliciosos quitutes mineiros, e os idosos com seu olhar emocionado em instituições que também nos recebiam com deliciosos pães de queijo, bolos e doces da maravilhosa culinária mineira.

A caravana do Geffa chega em São Lourenço.
A caravana do Geffa chega em São Lourenço.

Como esquecer dos olhos das crianças brilhando de satisfação à espera dos brinquedos embrulhados com tanto cuidado e esmero e que apresentavam o nome de cada uma delas? Como esquecer das senhoras recebendo, felizes, colares e pulseiras e se sentindo mais bonitas, mais cuidadas? Como não se lembrar das lágrimas que escorriam de emoção tanto dos caravaneiros quanto dos demais? Perguntei-me quantas histórias não estariam ali por detrás daquelas peles enrugadas, que percurso aquelas pessoas teriam feito para que hoje estivessem ali? E assim, acabei me lembrando do meu avô, da minha avó por parte de mãe; lembrei-me também do meu pai.

Depois de tantas lembranças que me apertavam o peito, as lágrimas saíram como lavas de um vulcão há séculos adormecido. A emoção foi muito forte, mas o sorriso de uma senhora comoveu-me: ela pegou a minha mão e beijou-a. Por um instante, refleti e percebi a grandiosidade daquele momento. Enxuguei as lágrimas e sorri de volta. Eu estava em paz, pois aquele sorriso sossegara o meu coração.

Foram tantas as cenas lindas e comoventes. Aquela das pessoas passando as caixas com remédios e mantimentos de mão em mão a partir do caminhão até a mesa de cada instituição num trabalho de “formiguinha”… Bem que a mídia podia dar mais espaço para a divulgação dessas ações de caridade, solidariedade e amor que se espalham por esse Brasil.

Inesquecível...
Inesquecível…

Ah! Não posso esquecer também de aplaudir a fantástica e emocionante apresentação de Anatasha Meckenna e Allan Vilches com suas vozes angelicais. Senti uma energia tão pura e elevada durante todo o espetáculo enquanto cantavam acompanhados do público que estava ali para o XVII Encontro Espírita das Águas do Sul de Minas. E a palestra de Célia Diniz Rodrigues sobre Chico Xavier… Voltei transformada. Encontrei-me comigo mesma naquela viagem. A menina, que cercada de santos de gesso prontos para serem maravilhosamente restaurados ou produzidos pelo seu avô que sempre tinha encomendas para a “Casa Baptista”, em Madureira, se encontrou com a Ana Cristina de hoje para, juntas, trilharem o caminho que seguirão por toda a vida.

Um grande amigo meu, Gláucio Albuquerque, já dizia que tudo que passamos na vida de bom ou ruim fica dentro da gente e uma hora aparece. Sim, ele tinha razão. Andar pelo Parque das Águas e conhecer todas aquelas pessoas, em São Lourenço, fez com que eu repensasse muitas atitudes minhas e de outras pessoas neste mundo. Às vezes reclamamos de tanta bobagem, hesitamos tanto, deixamos de fazer coisas por preguiça, por medo… Vemos inimigos externos que, muitas vezes, ou são frutos da nossa imaginação ou, na verdade, são projeções de assuntos mal resolvidos, simplesmente pelo fato de termos de nos mostrar uma fortaleza o tempo todo.

Tirei essa foto durante a viagem, tudo a ver.
Tirei essa foto durante a viagem, tudo a ver.

Amemos mais. Olhemos mais a nossa volta e veremos quanta coisa há para fazer. Agradeçamos pela comida no prato, pela água que bebemos sem esforço. Agradeçamos pela nossa saúde e por todos aqueles que passaram pelas nossas vidas, nos fazendo rir ou chorar, porque, seja como for, eles nos ajudaram a crescer. Esqueçamos as mágoas, os preconceitos, a vaidade e o orgulho sem sentido. Oremos mais, agradeçamos mais, peçamos menos. Ergamos a nossa cabeça, não para nos sentirmos superiores, mas para que consigamos notar a força interior que cada um de nós possui e que, aliada a outras tantas forças, pode fazer deste mundo um lugar mais justo e mais digno para todos. Não pequemos pela omissão; não provoquemos lágrimas alheias. Façamos alguém feliz com gestos simples e assim nos façamos felizes, pois a verdadeira felicidade não está nos bens acumulados na Terra, mas no bem que propagarmos por toda parte através do amor e da caridade independentemente de credo ou religião.

Só tenho a agradecer a Deus, a minha amiga Cris, aos meus familiares e ao Geffa por esses momentos e pela minha volta a São Lourenço. E assim, agradecendo por este ano que chegou ao fim, escrevo meu último texto do ano de 2012 e desejo a todos um ano de 2013 repleto de muita luz e de muito amor! Namastê!
Texto escrito para Feedback Magazine e publicado em 5 de janeiro.