Depois de alguns meses sem postar aqui no blog, hoje me deu uma vontade enorme de escrever.Talvez porque, apesar de logo pela manhã ter me aborrecido com uma das minhas turmas, outras turmas vieram que me fizeram sorrir e me deram certeza de que sim, vale a pena ensinar.Quando a gente ensina, muito mais do que ensinar, a gente aprende. Aprende que cada aluno daquele é uma pessoa com seus problemas, frustrações e anseios. Aprende que antes de sermos professores somos também pessoas e que há dias em que estamos bem, outros nem tanto. A gente aprende que não é porque não deu certo às 7 da manhã, não poderá dar certo às 7:50 e que a culpa não é nossa se, no Ensino Médio, nos despejam alunos que não sabem o básico nem em relação ao conteúdo como também em relação às mínimas coisas como dizer um "Bom dia!" ou um "Por favor".
Dou aula há quinze anos e posso dizer que já vi muita coisa ao longo do caminho.E como vi...
Já ouvi muitas promessas falsas de patrões da rede particular e de candidato ao cargo de governador.Sem contar as inúmeras vezes que ouvi e continuo ouvindo as pessoas dizerem que o futuro do país está na educação. E pergunto: como posso falar em futuro, se no presente, só são dadas, à educação, migalhas?
Ensinar é um ato de amor, mas o que estão fazendo com a educação no nosso país é um ato de covardia. Reforço mais uma vez que o problema não está no ato de ensinar, mas na importância que se dá ao ato de ensinar e a todos aqueles que participam desse processo.
Mas por que será que isso acontece? Político coloca seu filho para estudar em colégio Estadual ou Municipal?Político usa os serviços dos hospitais públicos?Não, claro que não. Não há interesse político por uma educação de qualidade a não ser em época de eleição.Aliás, ainda acrescento: instrução leva a pensar sobre o mundo, sobre a vida, sobre a política... Político com más intenções não vê vantagem em povo instruído e, infelizmente, no nosso país, muitos políticos depois de eleitos não nos representam.
Continuando...
Você sabia que na rede pública estadual do Rio de Janeiro, professores e direção são coagidos a atingirem metas como se os profissionais da educação fossem vendedores do saber, tendo que bater cotas para ganhar "bônus" como um agradinho pelo serviço prestado? E que caso as metas não sejam alcançadas, a escola fica ameaçada de ser fechada e professores e alunos são remanejados, perdendo sua identidade coletiva e alterando a rotina de todos?
Remanejados? Bem, isso não é um processo simples. O terror do professor da rede estadual é "sobrar" na sua escola de origem e ter que ir até a "metro" e ficar "catando" tempos de aula até fechar a quantidade necessária . Isso pode levar horas, dias... só conseguindo se fixar em uma única escola "por milagre". Talvez quem não viva esta realidade profissional não saiba disso, mas é assim que acontece. Geralmente, o professor acaba tendo que lecionar em várias escolas para conseguir fechar a quantidade de tempos, correndo de um lado para o outro o tempo todo.
Talvez você também não saiba, mas o professor da rede estadual recebe um "auxílio-refeição" por CPF e não por matrícula. Portanto, "vale-cultura" e "auxílio-refeição" são pagos por CPF e tanto faz se o profissional possui uma ou duas matrículas. Percebeu a loucura?
Inclusive, eu já ia me esquecendo, os professores também têm sido obrigados a mostrar atestado médico da rede pública quando ficam doentes e precisam se ausentar da escola. O atestado da rede particular não é aceito e assim começa a odisseia: para pegar atestado público é necessário se consultar na rede pública. Professores mesmo com plano de saúde precisam ir até uma rede pública de saúde. Aí eu pergunto: Por que se paga Plano de Saúde no Brasil? E eu mesma respondo: Para não passar pelo sufoco de ter que frequentar a rede pública de saúde que está uma porcaria há muito tempo. E aí dizem: "Leva na UPA e pede pra trocar." Como assim? Claro que é muito difícil que um médico faça isso. Afinal, sejam funcionários da rede pública ou da particular,todos são formados na área médica. O atestado de um é mais confiável do que do outro? E o que acontece? Pressão em cima de pressão: "Ou arranja ou leva falta." Ou seja, nem doente se pode ficar mais.
O fato é que profissionais que estudam bastante para estar onde estão, prestam um concurso, passam e se deparam com esta e tantas outras situações de desrespeito. São pressionados de todas as maneiras. Inclusive, mais uma ameaça pairando sobre as cabeças dos professores prevista para o final do ano letivo: justificar individualmente as reprovações numa tentativa covarde de forçar a aprovação dos alunos.
É, meus caros,citei aqui "alguns" absurdos.Se eu fosse listar todos, precisaria escrever um livro. As reivindicações dos professores não fazem sentido? Tem mesmo certeza? Vamos fazer um acordo?Vamos parar de tratar os professores como coitadinhos ou coisa menor? Ou dizer que "lecionar é um sacerdócio"? Essa frase já deu, né? Francamente...
Ser professor é uma profissão que deve ser tratada com respeito A categoria tem que ser respeitada com salários mais altos do que tem recebido e boas condições de trabalho. A escola tem que ser levada a sério e não lotada de projetinhos que não são eficazes e que fogem à realidade da escola. Chega de assistencialismo hipócrita e de discursos mentirosos que objetivam jogar a população contra os professores através de uma mídia nitidamente vendida. Chega de jogar os professores uns contra os outros. Quem não aderiu à greve não é por estar satisfeito, mas por temer ficar sem seu salário por ter compromissos assumidos e por estar sem forças para lutar nas ruas pelos mais diversos motivos. A decisão individual também deve ser respeitada. Cada um luta como pode.
Muitas situações absurdas acontecem nas escolas e sei que a maioria da população desconhece, pois, geralmente, os meios de comunicação colocam o professor como vilão da história. Quantas vezes vimos reportagens na TV que abordem de forma séria o que passam os professores nas escolas?Muitos profissionais, inclusive, adoecem, adquirindo síndromes que os obrigam a se afastar do trabalho.Isso aparece com frequência na TV? Eu, particularmente, não me lembro de ter assistido a nenhum programa que tivesse falado sobre isso. E você?
Ensinar é um ato de amor, valorize o seu professor! Mas valorize-o de verdade. Afinal,o professor não é de um aluno ou de uma turma,ou de uma ou várias escolas, ele é de toda a sociedade.
Um forte abraço a todos.
