quinta-feira, 23 de agosto de 2012

EDUCAÇÃO! ONDE ESTÁS QUE NÃO RESPONDES?*

    

 Lamento que as coisas tenham chegado a esse ponto entre nós.Pensei que tivesse me preparado quando jurei contribuir para a educação do meu país, tentando formar cidadãos instruídos e de bem. Então percebi, com o passar dos anos, que não bastava ter estudado tanto.Eu seria exigido ainda mais física, moral e espiritualmente.Forçariam-me a acumular funções quando, na verdade, meu diploma habilita-me numa determinada cadeira que não inclui ter que ser também pai, mãe, amigo e saco de pancada das frustrações e falta de limites de uma geração descompensada.
     Lembro-me como era difícil, antigamente, um aluno com poder aquisitivo baixo ir à escola em nossa cidade. O uniforme não era dado, nem os livros , não havia "Rio card", mal havia um cotoco de lápis para se fazer as lições, entretanto,  os alunos eram esforçados e respeitavam uns aos outros e os membros da escola, pois aprendiam em casa a respeitar os mais velhos e que, através do estudo,  se chegaria a algum lugar .Hoje  alunos de baixa renda no Rio de Janeiro possuem MPs da vida, celulares de última geração com acesso à internet, netbooks, mas se lhes solicitamos uma cópia de R$0,15  ou pedimos que comprem livros de leitura de R$20,00, R$30,00 , dizem não ter dinheiro. 
     Não existem ventiladores em muitas escolas, pois há vândalos que destroem o patrimônio institucional por diversão.Professores são ameaçados e processados se    "Alguém" interpreta ter havido "constrangimento"  em relação ao aluno. Mas e quanto ao profissional da educação? Não é constrangido quando debocham de sua cara, falam palavrões absurdos em sala como se fosse algo normal ou dizem a seguinte pérola que um colega confidenciou-me ter ouvido: "Coitado do professor, estudou tanto para estar na merda." 
     Ou ainda enquanto uma professora lia um poema de  Carlos Drummond de Andrade:" No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho/  tinha uma pedra/  no meio do caminho tinha uma pedra." Aluno:"Professora, ele era usuário ou traficante?" - referindo-se à pedra de Crack.
       Ou ainda sobre Drummond: Professora, esse conheço!-disse feliz e eufórico- Não foi ele que inventou o avião?- referindo-se a Santos Dumont.
     Enquanto esse caos acontece, vem a notícia; cotas de 50% para acesso a Universidades públicas para negros, índios, pardos e estudantes de escolas públicas.Enquanto esse caos acontece, jogam toda a culpa e responsabilidade nos profissionais da educação.Profissionais estes que só são mencionados durante campanha política e depois são massacrados e esquecidos.
      Não vejo prefeito ou governador ou presidente ou secretário de educação visitando as escolas e escutando dos profissionais das mesmas  a respeito das reais necessidades de cada unidade escolar. As ordens vêm de cima para baixo de pessoas que não conhecem a realidade.
        No Rio, por exemplo, só a Zona Sul aparece representando a cidade. As demais regiões só servem para pagar impostos ou para  servir de pano de fundo na divulgação de projetos políticos em favelas.
         Mas por que me espanta estarem as coisas como estão se abri o jornal hoje e li um trecho das provas de duas candidatas a vereadoras  do Rio para mostrar  que  NÃO são analfabetas:

1a) " Eu  De Claro Não posunho mei um Beis(...) De claro que eu cucei até 6 ano"   (Rio,09/07/2012)
2a) "Brasileira víuva emdereço (...) de claro escolaridade Primario compreto"   (11/07/2012)

         Preciso dizer mais alguma coisa?

* Referência ao verso "Deus! Ó Deus! onde estás que não respondes!/ Em que mundo, em qu´estrela tu t´escondes/ Embuçado nos céus?..." do poema "Vozes d´África", de Castro Alves.
        

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