quarta-feira, 14 de junho de 2017

UMA LIÇÃO PARA JAMAIS ESQUECER

       
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          Precisei, por algumas horas distribuídas nos dois últimos dias, ir ao Hospital Memorial de Todos os Santos na Zona Norte do  Rio de Janeiro, para concluir  exames de rotina e, como sempre faço, observei o entorno enquanto esperava. Nunca gostei muito de esperar sem previsão de término de espera, mas de uns tempos para cá, tenho tentado ser mais paciente, embora que, ainda  e até aquele momento, não fosse uma paciência natural, mas uma tentativa de ser paciente, de respirar fundo e "aguentar mais um pouquinho" quando a irritação começava a querer dar o ar de sua graça.
          Várias vezes já me disseram que se você perdeu a paciência , é porque nunca a teve. Ninguém "perde a paciência". Confesso que não levava isso muito a sério, mas tenho tentado refletir sobre o assunto com mais cuidado.
          Bem. Observava os pacientes impacientes -parece sem sentido rs- aguardando serem chamados pela sua senha. Aquele painel que informa o próximo a ser chamado traz consigo a propriedade de cutucar a ansiedade de qualquer pessoa. Confesso que olhei para aquele papel umas cem vezes e a espera parecia uma eternidade. Uma espera de aproximadamente uns 10 minutos. Não mais do que isso. Não sei por qual motivo, mesmo que num pensamento rápido, achamos que o nosso problema é diferente, que tem que ser olhado de um modo individualizado e rápido. Um rápido que reflete o nosso tempo e não o tempo da vida, o tempo do outro. Alguns externalizam essa ansiedade, outros carregam essa ansiedade no seu pensamento.
          Fui chamada e o rapaz me disse para seguir o corredor e aguardar na segunda porta  de alumínio à esquerda. Foi o que fiz. Várias pessoas entraram por motivos diferentes, pois, na mesma sala, eram feitos diversos procedimentos o que trouxe alguma reclamação por parte dos senhores que ali aguardavam. 
          De repente, uma pessoa me chamou a atenção: uma profissional da área da saúde que, pacientemente, atendia a todos, independentemente, de ser aquela a sua função. Percebi que todos iam até ela, desde médicos e atendentes até pacientes, pois ela era 'verdadeiramente' sempre solícita independentemente da situação. Ficar ao lado dela trazia  uma paz, porque ela externalizava tanto amor pelo que fazia que era contagiante.
          Ontem, na hora de colocar holter, comentávamos de forma leve os últimos acontecimentos. Um menininho foi tirar sangue, creio que pela primeira vez, e seu desespero era tanto que levou mais de trinta minutos para que conseguissem terminar o procedimento. Até que ninguém reclamou do lado de fora. As pessoas ficaram preocupadas, querendo dar ideias de como seria a melhor forma. Ideias que só ficaram ali conosco no corredor.
          Hoje voltei lá 24 horas depois para a retirada do aparelho e , enquanto esperava, continuei observando. Várias pessoas, mais do que ontem, nervosas, querendo resolver seus próprios problemas e essa moça, alta , negra, cabelo liso, castanho-dourado, curto que devia ter uns cinquenta e poucos anos, talvez, ali estava mais um dia  firme e  amável cuidando de tudo e de todos. Chegou a hora de eu entrar e lhe fiz um elogio e a parabenizei por toda a paciência e dedicação com seu trabalho e com as pessoas. E ela me disse que quando se trabalha com amor ou se aprende a amar o que se faz , você tem paciência. Às vezes é necessário ser mais firme, às vezes não, mas que todos ali chegam com problemas e precisam ser ouvidos. Quanto mais agressiva a pessoa é, de mais cuidado ela precisa, pois lhe falta algo e, por isso é necessária a paciência e o cuidado. Eu disse que iria me inspirar nela quando estivesse com meus alunos. Dei-lhe parabéns e agradeci pela lição de vida de quem tinha mais de trinta anos de profissão.
          Saí dali pensando, enquanto caminhava em direção à minha casa, que talvez ela nunca saiba que escrevo agora sobre ela, que talvez eu  nunca mais a veja, que talvez nunca venha a saber seu nome,mas  de uma coisa eu sei: esquecê-la e esquecer o que eu vi e  ouvi ali nesses dois dia será impossível.

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