sábado, 21 de abril de 2012

Reflexões e reajustes

     

    Já estou há um certo tempo para escrever sobre esse assunto, mas, muitas vezes ,me faltaram as palavras.Não que eu vá garantir que escreverei aqui as palavras certas ou que escreverei palavras suficientes para dar conta de um assunto tão delicado e que fere, na mesma proporção, todos nós.Acho que, em relação a isso, todos sofremos,mas a forma com que lidamos com esse fato devido a muitos motivos- sejam eles culturais, religiosos ou de valores e hábitos  familiares- é que pode variar.
    
      Muitas pessoas julgam aquele que não derrama nenhuma lágrima quando chega a hora de encarar uma situação como essa.Há a lágrima que fica presa, represada dentro de algumas pessoas o que não significa que sofram menos ou que nada sofram.Nesses momentos, as pessoas mostram-se mais solidárias- o que pode durar um dia, uma semana ou meses, mas geralmente, quando se passa por uma situação como essa, só se percebe a mão estendida no dia seguinte quando você acorda e percebe que tudo que você viveu no dia anterior não era um sonho.A rotina muda e, dependendo do vínculo existente com a pessoa que nos deixa, você fica com a sensação de vazio.Um vazio tão profundo que você passa a meditar sobre a sua vida e, nessa hora, passa um filme e você percebe, muitas vezes, que aquilo que até então tinha importância torna-se tão pequeno, tão insignificante e que tudo pode mudar em uma fração de segundo e  você que achava que controlava tudo descobre que  era um tolo por assim pensar.
     
     Nessa hora, Deus mostra a sua força absoluta e nos coloca em nosso lugar.Nessa hora, você percebe que o mundo não para para esperar o  tempo da sua dor estancar ou amenizar. A roda da vida não para Hoje em dia, então, gira mais rápido.E,dependo do vínculo que você tenha com a pessoa que se foi, a dor da perda pode durar a vida inteira e a sua vida não pode parar se o mundo não para.Mas o que fazer?Primeiro é aceitar o inevitável e ter em mente que não tem jeito: todo mundo vai passar por isso. 
    
    Lembro-me que quando o meu pai nos deixou num processo muito doloroso a todos, eu fazia aniversário menos de dois meses depois e, lá em casa,  ele sempre gostou de festas e sempre comemorou o meu aniversário me surpreendendo com flores,presentes e com sua presença que era forte e marcante.Lembro-me que, na última festa que tive, um ano antes de ele partir, ele contratou carro de som, houve churrasco, faixa comemorativa... meio que uma despedida mesmo. E o que foi interessante é que eu senti que seria a última festa com todas aquelas pessoas que ali estavam.Lembro-me que me afastei por um momento, encostei-me num daqueles frades que são colocados para ninguém estacionar na calçada e fiquei observando as pessoas que se divertiam.Num determinado momento, o meu namorado na época se aproximou e me perguntou o motivo da  lágrima que escorria no meu rosto,se eu estava triste. Respondi: "Não estou triste.Apenas sei que essa festa, dessa forma, será a última e estou aqui admirando um pouco as pessoas."

      No meu aniversário, passei o dia inteiro arrumando meu armário. Não queria parar para pensar.Queria transformar a minha dor em algo bom.Retirei tudo que não servia mais na pessoa em que eu me transformara depois de tão grande perda.Resolvi, naquele dia de quinze de setembro de 2008,doar tudo que não precisava mais e o que eu não necessitaria para continuar a minha caminhada. Afinal, havia muita coisa ainda a ser feita. Era um momento para agradecer por tanta alegria tida ao longo de tantos anos. Era tempo de refletir sobre tudo.Era momento de prosseguir sem lamentações, pois querendo ou não um ciclo se encerrava e outro começava a partir dali.
       
          

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